28.1.10

CULTURA ABUSIVA ENTRE MENINOS E ENTRE HOMENS E MENINOS E A VIOLÊNCIA DOS HOMENS CONTRA AS MULHERES


Comentários de Rozangela Justino, em julho de 2009, a partir da leitura do capítulo do livro:


Estudos Feministas, CFH/UFSC, vol 9, N 2/2001. Capítulo: A CONSTRUÇÃO DO MASCULINO, dominação das mulheres e homofobia. Daniel Welzer-Lang.

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Trechos dos escritos do Daniel Welzer-Lang e comentários de Rozangela Justino:

1) Daniel Welzer-Lang reconhece que na “educação dos meninos” ocorrem constantes relações homossexuais, masturbação mútua, inclusive com a participação de adultos, onde a pornografia é vista tanto individualmente quanto coletivamente, servindo de estimulação para se excitarem mutuamente. ...

Rozangela Justino: É o que ocorre nos relatos de casos de pessoas que procuram o MOVIMENTO DE APOIO para deixar a atração pelo mesmo sexo. Pornografia e pedofilia estão sempre permeando ou permearam a relação dos nossos apoiados.

2) Ao mesmo tempo que sentem prazer nestes encontros coletivos, onde um tenta se relacionar com o outro como se o outro fosse mulher, há uma constante luta para provarem uns para os outros a sua masculinidade.

Rozangela Justino: Normalmente os meninos relatam prazer “nas brincadeiras sexuais” (= abuso sexual), mas o fato de sentir prazer não significa que esta relação seja boa. Por esta razão muitos pensam que porque sentiram prazer “são” homossexuais. Na verdade os abusos sexuais nem sempre são atos agressivos e o menino não pode impedir o prazer desta aproximação sexual. Isto parece explicar o empenho do movimento da liberação sexual para baixar o consentimento para que as relações sexuais entre as crianças e adultos e crianças flua livremente. É uma forma de inverter os fatos, fazendo parecer natural e boa a relação abusiva e pervertida. A maioria dos meninos passou por este tipo de experiência, mas não quer dizer que esta foi boa para eles. Precisamos trabalhar para que o abuso sexual não ocorra e não seja naturalizado. Por outro lado, a luta para provar a masculinidade de diversas formas por parte daqueles meninos que não permaneceram na homossexualidade continua para o resto da vida de muitos homens...

3) Os mais frágeis, acabam se colocando no “papel de mulher” e nos demais este tipo de relacionamento gera uma agressividade e competição entre os próprios meninos e estes passam a agredir as mulheres como uma forma de negar o receio de se parecer com qualquer delas.

Rozangela Justino: Pode ser uma explicação para a agressividade de tantos homens que acabam na prisão através da “Lei Maria da Penha”. Tudo começou nas “brincadeiras sexuais” na infância, ou seja, no abuso sexual entre os meninos e homens e meninos.

Algumas frases do Daniel Welzer-Lang sobre o que chama: “A Casa dos Homens” :

“...atravessam a fase da homossociabilidade na qual emergem fortes tendências e/ou grandes pressões para viverem momentos de homossexualidade.”

“Nestes grupos, os mais velhos, aqueles que já foram iniciados por outros, mostram, corrigem e modelisam os que buscam o acesso à virilidade. ...Cada homem se torna ao mesmo tempo iniciado e iniciador..”

“...aqueles que resistem à iniciação são obrigados por força a fazê-la...”

Rozangela Justino: É o que observamos na “cultura dos meninos” – as brincadeiras agressivas e pressão constante para realizarem “brincadeiras sexuais” – é a banalização do abuso sexual entre meninos e homens e meninos.

APRENDER A SOFRER PARA SER UM HOMEM, A ACEITAR A LEI DOS MAIORES - Os “não ditos”:

“...A aprendizagem se faz no sofrimento. Sofrimentos psíquicos de não saber jogar tão bem quanto os outros”;

“Sofrimento dos corpos que devem endurecer para poder jogar corretamente. Os pés, as mãos, os músculos... Se formam, se modelam, se rigidificam por uma espécie de jogo sadomasoquista com a dor”;

“O pequeno homem deve aprender a aceitar o sofrimento – sem dizer uma palavra e sem ‘amaldiçoar’ – para integrar o círculo restrito dos homens”;

“... No monte de choros, de decepções, de tristezas escondidas que se associam a eles... E depois para ser o melhor. Para ganhar o direito de estar com os homens ou para ser como os outros homens.”;

“A educação se faz por mimetismos. O mimetismo dos homens é o mimetismo das violências. De violência inicialmente contra si mesmos”.

“A guerra que os homens empreendem em seus próprios corpos é inicialmente contra eles mesmos. Depois, numa segunda etapa, é uma guerra com os outros”.

Rozangela Justino: Parece que o autor reconhece que o abuso entre os meninos e meninos e homens é uma violência com conseqüências para a vida adulta.


A “APRENDIZAGEM” SEXUAL SE DÁ EM MEIO A ESTAS EXPERIÊNCIAS

“A mensagem dominante: Ser homem é ser diferente do outro, diferente de uma mulher”

“A Gaiola da Virilidade” é um lugar de risco e abuso”.

Antecâmara da casa dos homens:

“... É também um lugar freqüentado periodicamente por homens mais velhos. Homens que ocupam ... O lugar de irmão mais velho, ...’encarregado de controlar a transmissão dos valores’. Alguns se nomeiam pedagogos, outros monitores de esporte, ou ainda padres, chefes de escoteiros... Alguns presentes fisicamente e outros não...”
“... Outros agem através das suas mensagens sonoras, de suas imagens que se manifestam neste lugar.

“... Denominados artistas, cantores, poetas.”

... Embora a cultura de cada vilarejo , classe social, ... O conceito é constante...

“Numerosos meninos são abusados ...Para ser viril é preciso sofrer”

Rozangela Justino: Além do sofrimento já relatado pelo autor, há uma evidente denúncia de que algumas manifestações culturais sugerem abuso e agressão contra os meninos.

A iniciação por outro

Iniciado pode também significar ser violado, obrigado, - sob obrigação ou ameaça ... Os homens a quem uma tal iniciação é imposta guarda marcas indeléveis”;

Rozangela Justino: O autor reconhece que há reflexos negativos na vida adulta do homem que foi abusado sexualmente.
“Muitos homens que foram violentados sexualmente por outro homem mais velho acabam por reproduzir esta forma particular de abuso.

Rozangela Justino: Confirma as estatísticas que mostram grande percentual de autores de abusos dentre os que foram abusados.

“...É como se eles se repetissem: ‘Já que eu passei por isso, que ele também passe’ e o abuso, além dos benefícios que traz, é uma forma de exorcismo, uma conjuração da desgraça vivida anteriormente. Depois ao longo dos anos, quando a lembrança e a dor da humilhação se estanca um pouco, o abuso inicial funcionaria como um elemento de compensação... Onde outros abusos perpetrados representariam os juros que o homem abusado vem cobrar. ... Isso vale tanto para os abusos realizados contra homens como contra mulheres realizados em outros lugares.”

Rozangela Justino: Parece que os homens acabam se tornando autores de abusos de outros meninos e também revela a agressividade de muitos homens contra as mulheres.

“Outros, se fecham em uma couraça, incorporando, de uma vez por todas, que a competição entre homens é uma selva perigosa onde é necessário saber se esconder e debater e onde in fine a melhor defesa é o ataque.

“... As preliminares aos abusos sexuais são os coletivos... Golpes: socos, pontapés, empurrões. As pseudobrigas ... Para mostrar a sua superioridade física para impor seus desejos. Ofensas, o roubo, a ameaça, a gozação, o controle, a pressão psicológica para que o pequeno homem obedeça e ceda às injunções e aos desejos dos outros...”

Rozangela Justino: O autor revela muitas verdades que escutamos dos nossos apoiados que inclui os jogos sadomasoquistas na relação abusiva homossexual ... só que ele interpreta esta realidade declarando que a causa disso tudo é a “heterossexualidade compulsória e a homofobia” e não o abuso sexual em si que precisa ser banido da cultura masculina, para que meninos e homens se libertem do sofrimento das relações abusivas e também não levem esta agressividade para a relação com as mulheres!
Rozangela Justino cursou a especialização em Atendimento a Crianças e Adolescentes Vítimas de Violência Doméstica, na PUC-RJ

CARTA DE BRASÍLIA



O QUE SE PRETENDE COM A CARTA DE BRASÍLIA - proteger os direitos das crianças e dos adolescentes?


CARTA DE BRASÍLIA

Os Centros de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente (filiados a ANCED), as organizações de defesa de direitos de crianças e adolescentes e organizações do Movimento de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais - LGBT que estiveram reunidos na oficina Direitos Humanos e Diversidade Sexual do Adolescente, realizada em Brasília nos dias 06 e 07 de maio de 2009, com o propósito de debater e apontar diretrizes para a promoção, defesa e garantia dos Direitos Sexuais como Direitos Humanos de Crianças e Adolescentes declaram que:

A plena afirmação de crianças e adolescentes como sujeitos de direitos passa pelo reconhecimento do exercício da sexualidade como um direito fundamental desses sujeitos. Para a afirmação dos direitos sexuais é fundamental garantir informação, livre expressão, bem como respeitar a autonomia e responsabilidade das crianças e adolescentes no desenvolvimento e exercício de sua sexualidade, livres de qualquer forma de preconceito, humilhação, omissão ou violência.

Os setores comprometidos com a garantia dos direitos sexuais de crianças e adolescentes precisam ter como princípios de sua atuação: a necessária afirmação de um Estado laico e o enfrentamento aos fundamentalismos religiosos; rompimento com posturas que reproduzam hierarquias de gênero; garantia do direito de crianças e adolescentes à livre expressão de sua orientação sexual e identidade de gênero, respeitando sua condição de pessoas em desenvolvimento.

Para a efetivação dos direitos sexuais de crianças e adolescentes é necessário o desenvolvimento de projetos, programas e políticas públicas intersetoriais comprometidos com:

§ A efetiva participação de crianças e adolescentes na construção de propostas político-pedagógicas de promoção, defesa e garantia de seus direitos sexuais;
§ Garantia do acesso à informação sobre sexualidade, ligada à educação em direitos humanos, numa perspectiva emancipatória e inclusiva;
§ Afirmação da garantia dos direitos sexuais de crianças e adolescentes, como ação efetiva no enfrentamento ao abuso e exploração sexual;
§ Reconhecimento e afirmação da diversidade sexual;
§ Afirmação de toda forma de violência, discriminação, preconceito, humilhação, constrangimento por orientação sexual e identidade de gênero como violação dos direitos humanos de crianças e adolescentes.

Cientes da necessária mudança de concepções e práticas para a afirmação dos direitos sexuais como direitos humanos de crianças e adolescentes, entendemos ser de fundamental importância promover espaços de formação e debate que envolvam o conjunto de atores do Sistema de Garantia de Direitos de Crianças e Adolescentes, bem como ativistas dos movimentos feminista e LGBT; e inclusão do tema dos direitos sexuais de crianças e adolescentes em Conferências e Fóruns do movimento de garantia dos direitos de crianças e adolescentes.

Brasília, 07 de maio de 2009.
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