08/06/2007 - 09h05
Panfleto para Parada Gay orienta como cheirar cocaína
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DANIEL BERGAMASCO
da Folha de S.Paulo
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u302817.shtml
da Folha de S.Paulo
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u302817.shtml
Impresso em 40 mil exemplares, um panfleto produzido para ser distribuído na Parada do Orgulho GLBT de São Paulo orienta os participantes sobre o uso de cocaína.
"Para cheirar, prefira um canudo individual a notas de dinheiro", diz o material, que também traz dicas sobre outras drogas: "Faça uma piteira de papel se for rolar um baseado"; "Compartilhe a droga, nunca o material a ser usado".
A cartilha estampa o selo colorido do governo federal, aquele do slogan "Brasil - Um País de Todos". O Ministério da Saúde confirma que os dados utilizados no texto são coerentes com a sua política de redução de danos.
Também estão impressos na cartilha logotipos dos programas contra DST/Aids do governo estadual e da Prefeitura de São Paulo, do Ministério do Turismo e da Embratur. Entretanto, segundo as respectivas assessorias de imprensa, os órgãos não tiveram participação na elaboração do material.
O panfleto --que, dobrado em quatro partes, forma uma cartilha de oito páginas-- começou a ser distribuído ontem, durante a Feira Cultural GLBT (sigla para Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros), no vale do Anhangabaú (região central), principal evento paralelo à parada. A distribuição continuará no domingo, quando a parada deverá reunir 3 milhões de pessoas, segundo estimativa dos organizadores.
Regina Fachini, vice-presidente da Parada do Orgulho GLBT de São Paulo, diz que o objetivo do texto é "alertar para o risco de contaminação durante o uso de drogas, de acordo com dicas do Ministério da Saúde". "É a idéia de redução de danos para afastar riscos de doenças transmissíveis, como a Aids", diz Fachini.
Investigação
O material elaborado pela organização da Parada Gay é criticado pelo delegado Wuppslander Ferreira Neto, do Denarc (Departamento de Investigações sobre Narcóticos), que diz que investigará o evento para checar se existe facilitação ou omissão ao tráfico de drogas.
"O lançamento de um panfleto assim mostra que a parada reconhece que lá vai se usar cocaína e maconha", diz o delegado. "Esse panfleto é uma aberração. É um incentivo ao uso de drogas e ao tráfico, que são crimes. A preocupação em alertar para cuidados de higiene não pode ser maior que a preocupação sobre o uso de drogas."
Médicos infectologistas ouvidos pela Folha divergem sobre a política de "redução de danos". "Particularmente, sou radicalmente contra o uso de droga em si. Não trabalho com hipóteses de redução de danos", diz David Uip.
"O ideal é não usar droga nenhuma, mas a divulgação dos cuidados é positiva para minimizar problemas", diz Hélio Vasconcelos Lopes.
A cartilha, que defende o uso de preservativos e fala sobre anabolizantes, tem outra dica polêmica, que diz: "Quanto mais cedo você souber se tem o HIV, mais tarde começará a tomar a sua medicação".
"Quisemos dizer que, quando a pessoa descobre que tem o vírus cedo, pode começar a levar uma vida mais saudável e retardar o início do uso de remédios", diz Fachini.
"Isso não tem nada a ver", discorda o médico Vasconcelos Lopes. "É claro que é melhor descobrir o quanto antes, mas o início do uso de medicamentos varia conforme cada caso."
O horário de início da Parada Gay é às 13h30 de domingo (10). Está prevista a passagem de 23 trios pela avenida Paulista, que se dispersam em frente à praça Roosevelt.
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